14 de abr. de 2011

SOU DO TEMPO...

O Artur Xexéo em sua crônica “Obsoleto”, sábado, 13 de fevereiro de 2011, na Revista – O Globo atiçou minhas lembranças. Por isso tomo a liberdade de parafraseá-lo.
Eu sou do tempo do jogo de bolita na calçada. Da piorra na roda. Do pião.Eu sou do tempo do telefone a manivela. Eu sou do tempo em quem atendia a ligação era a telefonista, perguntando: “Número, por favor?” Eu sou do tempo em que as ligações interurbanas eram feitas com hora marcada, e na agência da Telefônica.
Eu sou do tempo da máquina de escrever de escritório, com um carro enorme, marcas Remington. Underwood ou Royal. Eu sou do tempo em que se aprendia datilografia na Escola Remington. Eu sou do tempo em que os escriturários usavam pala verde de baquelita para proteger seus olhos. Eu sou do tempo do mata-borrão, do papel carbono, do telegrama fonado, da máquina de calcular acionada por manivela.
Eu sou do tempo do caderno escolar Avante, com o Hino Nacional Brasileiro na contracapa; da folha de papel almaço pautado usado nas sabatinas no Romagueira Correa; das aulas de música; da tabuada cantada; do “delantalito” branco; da caneta com pena de aço; do tinteiro redondo para encaixar na carteira escolar. Eu sou do tempo da caneta Easterbrook, tempo da Parker 51, da tinta Parker, do compasso Kern.
Eu sou do tempo do Almanaque Capivarol, das folhinhas das Pernambucanas, do sorvete e do cafezinho do Café Velo, dos merengues da Confeitaria Campana, dos vinhos do bar do Faraco, tempo das balas, bombons e cigarros do Lanzianni. Eu sou do tempo das figuras do Sabonete Eucalol, das faixas pretas da embalagem do Palmolive (com elas podíamos nos associar ao Clube do Vingador). Tempo em que colecionando caixas de pasta de dentes Colgate a gente passava a fazer parte do Clube do Tarzan. Do tempo em que as aventuras desses heróis eram acompanhadas nas ondas curtas do rádio a válvulas.
Eu sou do tempo em que minha família comprava “de caderneta” no Armazém Papaleo. Tempo da lata de Toddy, da goiabada Cica, das latas de biscoitos Aymoré, das balas Futebol que tinham um álbum que não me lembro de ter sido preenchido por ninguém conhecido. Eu sou do tempo em que só se andava de auto de praça para ir pegar o trem na estação. Tempo em que todo fim de ano o mulherio se assanhava com as Doideiras das Casas Pernambucanas
Eu sou do tempo das reuniões dançantes nos clubes da cidade e dos “assaltos" pré-carnavalescos. Tempo dos blocos de rua, da Falsa Baiana, do Marumbi, dos esquisitos. Dos Filhos do Mar, do Laço do Amor, do Cordão de Ouro. Dos blocos dos clubes, o Pichichê, o Big-Bem, o Pif-Paf. Do jogo d’água nas ruas. Tempo das férias na estância de onde a turma só voltava para o carnaval.    
Eu sou do tempo do traje de linho branco S-120, feito no Fittipaldi, e que só podia ser lavado pela D. Noêmia da Nova, comadre do meu pai. Tempo de traje azul-marinho, também by Fittipaldi. Tempo de calça de brim Coringa, “que não se micha encolhe, mas não espicha”. Tempo da pelerine, com capuz, comprada no Tarrago & Lang, prá agüentar as lichiguanas do inverno.
Dos seriados no Cine Theatro Carlos Gomes, das matines no Variedades, dos filmes de mocinho.
Eu sou do tempo da Pensão Dias Garcia. Do Hotel Estação. Da Livraria Centenário, do jornal O Brasil, da Fronteira. Da livraria do Fernando Tarrago onde sapeando lia, sem comprar, livros escondido debaixo do balcão. Era lá que chegava O Gibi, O Guri, O Globo Juvenil, O Mirim, A Gazeta Esportiva e O Globo Esportivo de onde nasceu minha paixão pelo Flamengo. Da Borboleta, cigarraria, venda de revistas e engraxataria.
Eu sou do tempo em que o Mujica ainda era Velho, e o Leo ainda era Guspida.
Eu sou do tempo... Bem ainda tem muito mais, mas agora tenho de mandar a matéria para o jornal senão o Fred me demite.

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