29 de set. de 2009

NA RÁDIO CHARRUA...

Na historia de toda e qualquer comunidade alguns mistérios sobrevivem por anos a fio sem que ninguém consiga desvendá-los e em Uruguaiana não poderia ser diferente.


Lá pelos idos de 1940, em meados do século passado, num dia de verão de canícula atroz um acontecimento inusitado veio a abalar a modorrenta cidade fronteiriça. Naquele então lá existia uma única emissora, a ZYZ-6, Radio Charrua de Uruguaiana, onde pontificava a voz sonora e bem empostada de Mario Pinto.


O noticiário do almoço era audiência obrigatória em toda a região. Era lá que o povo se informava e mandava mensagens para o interior do município:


- Alô, alô Toropasso. “Seu” Elesbão, na Estância da Pedra: Dona Emengarda pede que mande o carro grande esperar na estação que ela está indo com a gurizada pras férias.


- Alô, alô, alô Plano Alto. Dona Florência Silva: seu irmão, Pedroca pede que venha urgente. Seu tio está muito mal na Santa Casa. E... traga vestido de luto.


- Alô, alô Estância do Lagoão. “Seu” Nicácio Yrala: Sua esposa pede que quando vier, no fim de semana, traga um quarto de ovelha gorda. Não precisa trazer a lingüiça.


A sede da Charrua ficava na Domingos de Almeida, perto da Bento Martins, no próprio endereço de seus proprietários, a família Cobelli. Nessa mesma quadra, na Bento, era a residência do Dr. Borges da Costa, conceituado e querido médico, pai de três meninas, e na General Câmara a casa dos Barbará, bem em frente à Igreja Metodista, onde reinava um guri: Emeris. Os quintais de todas elas se encontravam no interior do quarteirão limitados uma frondosa amoreira com galhos pendendo para todos os lados.


A menina mais nova dos Borges da Costa se chamava Suzana e, mesmo sendo um pouco mais nova do que Emeris, costumavam brincar nos fundos de suas casas. E foi num dia desses que terminaram entrando às escondidas no estúdio da Charrua.


Emeris, que sempre foi encapetado, já tinha tudo planejado. Aproveitando que o locutor havia abandonado a mesa de som por um instante (talvez para ir atender a uma necessidade urgente) o menino entregou a Suzana um papel e mandou que lesse ao microfone. Suzana, inocente, fez o que ele mandou e antes que o locutor (acho que era o Stabile) voltasse, fugiram para suas casas.


O noticiário do almoço daquele dia foi inesquecível: Uma vozinha infantil desfiou rapidamente nas ondas do rádio uma relação impublicável dos mais cabeludos palavrões.


Esse crime nunca havia sido desvendado. E só agora, mais de meio século depois, me foi esclarecido pela própria criminosa, Suzana Borges da Costa, na visita que fiz à sua casa em Itaipava, em nosso reencontro aqui no Rio depois de muitos e muitos anos. Aliás, a bem da verdade, uma propriedade maravilhosa.

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