17 de set. de 2009

CORAÇÃO AOS FARRAPOS

Está chegando o Vinte de Setembro e, como todo ano, me preparo para comemorá-lo condignamente, o que nem sempre consigo seja tanto por falta de tempo, ou por falta de componentes imprescindíveis tais como “churrasco bom, chimarrão, fandango, trago e mulher”, o que, segundo a música, “É disso que o velho gosta, é isso que o velho quer”.
Em Araras, no alto da serra, tenho quase sempre hasteada junto a casa o pavilhão tricolor gaúcho – não confundir com o Grêmio que eu sou é Flamengo.
Porto-alegrenses, quase sempre da turma do Bonfa, nessa época buscam retomar contato com os gaudérios desterrados aqui pelo Rio, sempre de olho de numa possível convite para uma churrasqueada, o que nem sempre acontece. Afora isso eles têm sempre para conosco, bacudos, mambiras da fronteira, uma atitude desdenhosa, crítica, quanto ao nosso gosto musical, coisa, segundo eles, de gente atrasada, de mentalidade conservadora e contraria ao progresso social. Chote, milonga, vanerão, chula, bugio e outras grossuras são coisa de gente culturalmente pobre, desinformada. O quente é ter atitudes republicanas voltadas para o resto do país ou, mais especialmente, para o Nordeste, berço da nova raça afro-brasileira. Nós da fronteira seriamos um bando de pelo - duros, cruza de bugres com castelhanos temperados com uns alemães-batata, uns italianos e uns turcos que, vejam só, deu no que deu.
Mas, se houver festa, eles são sempre os primeiros a chegar, “pilchaditos no mas”, com suas bombachas e alpercatas compradas no Bric da Redenção, cuias e bombas argentinas, garrafa “termus” e puxando nos “bah, tchê, que barbaridade”. Figura que, como uma vez, durante a gravação de “O Tempo e o Vento”, em Porto Alegre, definiu um ator da Globo; “Pensa que é um gaudério de bombacha mas não passa de um gayderio de bombicha”.
Nestes últimos dias venho amargando uma duvida cruel: Fazer ou não um churrasco no Vinte de Setembro? O tempo tem estado firme lá no alto da serra, não está muito frio, a sessão de “comes e bebes” esta bem suprida, sei até onde conseguir uma carne razoável, mas... Não sei. Está me faltando motivação. Ou melhor, uma postura legal esta me emperrando a festa: A Lei Seca.
O nosso sítio fica a exatos noventa e cinco quilômetros da nossa residência em Copacabana, coisa que se faz em pouco mais de uma hora de carro. O complicador é o fato de quase todos nossos amigos morarem aqui no Rio e, sendo dia 20, domingo, teriam de voltar para casa no mesmo dia.(Por incrível que possa parecer, alguns deles trabalham nas segundas-feiras).
Churrasco, baile, vinho e Policia Rodoviária não andam se dando muito bem ultimamente, ainda mais com a instituição do Bafômetro. Isso não daria certo. E não me venham com aquela de “Se beber não dirija e se dirigir não beba”, fandango sem pinga não é fandango e eu queria só ver quem iria trazer os “autos” na volta. Ia ser um monte de borrachos presos pelos federais... e a alegria dos noticiários de segunda feira. Deus nos livre!
O 20 sempre me falou alto aumentando a saudade amarga dos pagos, agora ainda maior depois que fizeram do meu Sá Viana um inexpressivo “Vinte de Setembro Futebol Clube”. Essa traição meu coração tricolor não perdoará nunca.
Por tudo isso é que vou comemorar a Farroupilha meio “solito”, mas vou comemorar. Sempre vai aparecer lá por cima um desgarrado do pago, morador nas cercanias, disposto a cevar um mate e cortar uma carne no espeto e, sublime esperança, quebrar o silencio do meu velho violão - que eu nem sei tocar. E se não aparecer ninguém, mesmo assim me “pilcho” com a camiseta do Sá Viana, hasteio minha bandeira tricolor, boto meu Ipod prá tocar musica nativista e me encho de carne, vinho e orgulho de ter nascido gaúcho.
...E digo: “Buenas e me espalho”!

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