19 de out. de 2011

ESPORTE É VIDA?


Só para não perder o embalo, atrasei mais uma vez esta coluna. O Editor já está me cobrando, furioso com meu desleixo e negligência, fala até em multa sobre meu salário e outras atitudes mais, comuns aos magnatas da grande imprensa. Deve ser por isso que nunca recebi proposta dos jornais da capital, eles se comunicam entre si e queimam o filme dos maus profissionais. Oh, dor! Espero que entendam minhas razões e me seja concedido perdão por mais esta falta sem que ela vá macular minhas anotações profissionais.
Aqueles que já me conhecem desde os tempos de piá nesse rincão riograndense sabem da minha paixão confessa pelo jogo de futebol, aquele disputado com garra, amor e lealdade ainda que carente de habilidade e técnica mais sofisticada, sendo mais importante a luta do que o resultado. Quantas vezes sai eu de casa para chutar guanxumas num terreno baldio, perto da casa do Colmar Duarte, apelidado por nós de Estádio do Riachuelo, em disputas memoráveis que só eram interrompidas pelo anoitecer, quando já não se conseguia mais ver a pelota. E os rachas no pedregulho do campo do colégio União onde o Bomba, que ainda nem sonhava um dia ser prefeito, começava a despontar como um futuro craque? O Nedo Mandarino e o Campodônico nessa época já mostravam as boas relações que viriam a ter futuramente com esta moça caprichosa a quem chamamos de bola, uma intimidade que nem mesmo o amor pelo esporte este seu escriba nunca conseguiu desfrutar. Eu era aquilo que “carinhosamente” chamávamos de pata-dura e nas peladas só era escolhido quando contribuía com o objeto de nossos sonhos: Ela, A Bola. La Pelota. Não sendo o dono da “desejada” ficava torcendo para faltar alguém para completar os times.
Demorei algum tempo para entender que como jogador de futebol minha carreira seria curta ou mesmo nem iria se iniciar. Por isso quando fui estudar em Porto Alegre, em 1950, tratei de tomar outro rumo nos esportes. O escolhido foi o atletismo onde já havia tentado saltar em distância, o que me custara uma fratura num braço ao errar um salto caindo fora da caixa de areia, fratura essa que se repetiu mais duas vezes em um mesmo ano. Uma delas caindo numa pelada na calçada da Domingos de Almeida ao insistir em calçar “foba” (chuteira) com travas de prego. Coisa de guri burro. E a terceira vez foi quando numa briga, num racha no União bati com o braço engessado na cabeça de um coleguinha. Coisas do esporte...
Em Porto Alegre consegui ser aceito como atleta juvenil no Internacional levado pelo meu professor de ginástica no Julio de Castilhos, onde eu estudava. O professor Fredolino, esse era seu nome, tinha vivido na America do Norte e tentava por todas as maneiras despertar em nos o amor pelo baseball (o jogo mais chato que já conheci), mas, claro, não conseguiu. No Inter fui ser corredor de 110m com barreiras, e até me sai bem, tanto que consegui fazer parte da equipe do clube durante um bom tempo.
Mas... - sempre existe um mas em nossa felicidade – um dia o sonho quase teve fim.  Eu era um atleta do Inter, vestindo com muito orgulho e defendendo a camiseta vermelha do Clube dos Eucaliptos mas o amor pelo futebol é coisa que nunca acaba e sendo assim...
Era um Grenal disputado no velho campo dos Eucaliptos e como atração os dirigentes programaram uma disputa de atletismo antes do futebol competindo atletas infanto-juvenis. E lá estava eu participando de um revezamento 4x100m. Prova bonita onde nos saímos muito bem em que pese o domínio quase que absoluto da Sogipa no esporte base, naquela época.
Começado o Grenal ficamos nós, os atletas, sentados debaixo da social do Inter, envergando nossos belos abrigos vermelhos. Esse escriba admirava encantado, como sempre, os craques de ambos os times em sua disputa acirrada preocupado tão somente com beleza do espetáculo. Foi quando numa arrancada brilhante Prego, o centro avante co Grêmio passando pela defesa colorada marcou um golaço e esse escriba, tão somente amante do belo futebol saltou gritando: GOOOOLL!!!
Daí não vi mais nada.  Só acordei já no departamento médico, onde me contaram que eu havia sido atingido na cabeça por uma caixa de maçãs atirada da social. E também ninguém entendera o que dera na cabeça daquele maluco para torcer pelo Grêmio no banco do Inter.
E tinha sido tão somente uma demonstração de amor ao esporte bretão.
  

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