9 de abr. de 2010

O DIA EM QUE O GENERAL ENCAROU O GUARDA.


Corria a década de 50 no século passado, naquele tempo que em que “bandido é bandido, mocinho é mocinho”, “manda quem pode e obedece quem tem juízo” e, “galão e divisa não se dá prá sujeito safado”.
            O Quartel General da Quarta Divisão de Cavalaria ainda era em Uruguaiana, ali bem na esquina da Praça da Rendição, quase ao lado da Catedral. Dali até o Quartel do Oitavo RC ia-se numa reta só pela Avenida Duque de Caxias, mas o asfalto estava recém chegando só pouco adiante da Vila Militar dos Oficiais, e até aos quartéis era no pedregulho mesmo.
            Boa parte dos recrutas era oriunda das colônias da região serrana do estado e, como tal, descendentes de imigrantes. Todos muito ingênuos em que pese serem respeitadores e de boa índole. Flor de gurizada, mas muito xucra e, para complicar mais suas vidas, falando um português mais arrevesado do que o “gauchês” fronteiriço, o que dificultava sobremaneira seu entendimento às instruções militares.
            Depois do período de adaptação, coisa de um mês de instrução, a recrutada começava a ser escalada para serviços militares, sendo que o de maior responsabilidade era o da Guarda do Quartel. Esses soldados ficavam no Corpo da Guarda ao comando de um Sargento e se revezavam nas funções de Sentinelas,sendo a principal delas a do Portão Principal do Quartel.
Essa guarita ficava a cerca de cinqüenta metros do alojamento da guarda onde permanecia o comandante da guarda e os outros soldados de repouso.
             Uma das ordens mais expressas era de que ao observar a aproximação de uma autoridade de posto maior do que a que se encontrava presente no quartel a sentinela deveria alertar – acionando uma campainha - o Corpo da Guarda para que essa entrasse em forma ao brado de: “Guarda, Sentido!” Anunciando em voz alta o posto da autoridade recém chegada.
Durante as sessões de instrução de sinais de respeito aos superiores isso era repetido inúmeras vezes e, no caso do Oitavo, por ser o primeiro quartel ao fim da Duque sempre era chamada atenção para o caso de aproximação da “viatura” do General Comandante da Divisão – um inconfundível Chevrolet preto com uma bandeirola no paralamas dianteiro. Ao vê-lo a Sentinela deveria alertar:
- “Guarda Sentido! Sua Excelência o Comandante da Quarta Divisão de Cavalaria, General Fulano de Tal!!!!”
Comandava na ocasião a divisão de Uruguaiana o General Arruda. Um militar empertigado, em que pese sua baixa estatura, sério, como que incapaz de um sorriso sequer. Sempre elegantemente fardado, parecendo sempre pronto a ser fotografado, usando um par de óculos redondos de aro fino e um pinguelim com o qual costumava bater no cano das botas de montaria. Na época, um Chefe Militar Modelo.
Numa tarde de quarta feira, modorrenta – naquele tempo não havia expediente à tarde nas quartas feiras – estava estreando no serviço uma nova turma de recrutas. Um gringuinho daqueles da colônia, o Willmutz, estava como sentinela no portão principal.
Sozinho na guarita, com calor e sem saber bem o que fazer para passar o tempo o réco resolveu acender um cigarrinho. (Fumar era um dos novos hábitos que os récos adquiriam. “Macho que é macho, fuma”.)
Enquanto procurava pelos fósforos nos bolsos do uniforme o pouco vigilante sentinela não percebeu a chegada da viatura do general e procurando estava procurando ficou.
O General ao ver a falha da sentinela mandou que o motorista parasse e saltou ele mesmo para se entender com o soldado já que mesmo sendo um chefe de costumes rígidos não lhe faltava humor. E chegando junto do soldadinho que, com o cigarro entre os dentes, continuava procurando pelos fósforos:
- Boa tarde, soldado!
- ´tarde!
- O senhor está de sentinela aqui no portão?
- To.
- O senhor sabe quem sou eu?
- Sei não.
- Pois saiba que sou eu quem manda aqui no seu quartel, no quartel aí do lado, no quartéis do Alegrete, nos quartéis de Quarai... Em todos os quartéis aqui da fronteira!
O Sd Willmutz encarou o general com a maior calma, tirou o cigarro que havia posto atrás da orelha e comentou levando-o a boca;
- Mas bah, tchê!... Me empresta o fogo aí “machom”...

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