4 de nov. de 2010

DEU BODE


Quando, lá pelos quinze anos, quando comecei a me emplumar como garnisé na muda me assanhando para as meninas da minha idade, tive minhas primeiras decepções amorosas. As meninas já não eram mais meninas e sim moças casadoiras (as que já haviam debutado nos salões do Comercial) e eu, para elas, não passava de um frangote assanhado, e desengonçado. Começava já a freqüentar bailes, reuniões dançantes e até a boate do Sá Viana onde, nos altos da Confeitaria Campana, aconteciam as animadíssimas Noitadas Tricolores. Verdade seja dita que minha presença na boate só era permitida se ficasse escondido no caixa e porque meu pai era dirigente do clube. Mesmo assim me pressentia com um grande futuro como galã. Futuro esse que nunca se concretizou...
Já mais crescidinho um pouco comecei a ter idéias, a querer encontrar a mulher da minha vida que, pensava eu estava para chegar em breve. Foi ai que meus pais e principalmente minha mãe buscaram me abrir os olhos mostrando que nem sempre, ou melhor, quase nunca o primeiro amor é o que ficará para sempre. Esses geralmente acabam mal.
Não dei muita atenção aos seus avisos até que um dia um exemplo me foi mostrado e me serviu de lição. Aprendi com experiência alheia.
O caso se passou aqui na nossa fronteira Oeste mas vou contá-lo, é claro, usando nomes fictícios porque pode alguém ainda lembrar dos personagens.
Julio e Ana, filhos de famílias bem situadas financeiramente eram, por assim dizer, da fina flor da juventude da sua cidade e amigos desde criança foi considerado norma que namorassem e casassem ainda muito moços. Tinha tudo para serem felizes para sempre. Mas (há sempre um mas nos amores infelizes) os anos passaram e Ana não conseguia engravidar o que, naquela época era considerado uma tragédia. Júlio progrediu profissionalmente (não vou contar qual profissão a dele) e depois de certo tempo, como costume dos machos da terra, arrumou uma amante, uma amásia como se dizia então, - teuda e manteuda – enquanto Ana continuava sua vida de rainha do lar. Vaidoso, Julio, cultivou um belo cavanhaque ao qual dispensava uma especial atenção e encantava a sua senhora.
Até que um dia... Julio estava á tarde na casa da amante, curtindo o pós, quando ela resolve interromper o silêncio:
- Júlio, por que você não raspa esse cavanhaque?
- Ah... Se dependesse só de mim... Você sabe que minha mulher seria capaz de me matar se eu aparecesse sem ele... Ela me ama assim !
- Ora, querido - insistiu a amante - Faça isso por mim, por favor...
- Não sei não, querida.... Sabe, minha mulher me ama muito, tenho por ela o maior respeito... Não tenho coragem de decepcioná-la...
- Mas, pense bem, você sabe que eu também te amo muito... Pense no caso, por favor...
O sujeito continuava dizendo que não dá, até que, não resistindo às súplicas da amante, decide atender ao pedido.
Depois do trabalho Júlio passou no barbeiro onde, para surpresa de todos raspou o bendito cavanhaque. Dali vai ao jantar semanal do seu grupo de amigos e quando chega em casa a esposa já está dormindo.
Assim que ele se deita, sente a mão da esposa afagando o seu rosto e o queixo lisinho. Ana com voz sonolenta diz:
- Ricardo!!! Seu bandido, irresponsável... Tu ainda está aqui? Vai embora!!!... O bode velho já está pra chegar !!!

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